sábado, 18 de maio de 2013

Nao se mate




Carlos Drummond de Andrade
Carlos, sossegue, o amor  é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija,  depois de amanhã é domingo  e segunda-feira ninguém sabe  o que será.  Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se. Não se mate, oh não se mate, reserve-se todo para  as bodas que ninguém sabe  quando virão,  se é que virão.  O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você,  e os recalques se sublimando, lá dentro um barulho inefável, rezas,  vitrolas, santos que se persignam,  anúncios do melhor sabão,  barulho que ninguém sabe de quê,  pra quê.  Entretanto você caminha melancólico e vertical. Você é a palmeira, você é o grito  que ninguém ouviu no teatro e as luzes todas se apagam.  O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste, meu filho, Carlos,  mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.  

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